sexta-feira, 19 de junho de 2009

Coletivo Barricadas - nota de repúdio às manifestações racistas na UFS

Nota de Repúdio

Há algumas semanas, fatos lamentáveis tomaram lugar na Universidade Federal de Sergipe. Foi fixado na porta do Diretório Acadêmico Livre de História cartaz com apologia ao nazismo, além de pichações com conteúdo racista e homofóbico encontradas no Departamento de Geografia, sendo dirigidas a alguns professores.

Repudiamos de forma veemente as atitudes de apologia ao nazismo, de manifestação racista, homofóbica e sexista. Sabemos que esse tipo de manifestação, infelizmente, é uma demonstração explícita de valores, práticas e construções histórico-culturais presentes na sociedade capitalista brasileira, que se reproduzem no nosso cotidiano muitas vezes de forma velada, hipócrita e até despercebida.

A reprodução do racismo, da intolerância às diversas formas de amar e a discriminação de gênero têm sido formas utilizadas por uma elite branca, machista e heterossexual que dita aos indivíduos quais são as formas legítimas (segundo sua concepção) de se relacionar e viver. Criminalizam o negro e o homossexual, inferiorizam as mulheres na tentativa de intensificar a possibilidade de exploração econômica sobre esses setores da sociedade, e fortalecer a estrutura autoritária e opressora da sociedade capitalista em que vivemos. A reprodução desses valores tem sido uma arma valiosa para a burguesia branca impedir que nosso povo reconheça sua história, o valor de suas próprias construções culturais, que constitua uma identidade autônoma e se reconheça enquanto classe.

Tentam impor um padrão cultural hegemônico, veiculado incessantemente pela mídia e diversas outras instituições comprometidas com a manutenção da ordem, que visa formatar os indivíduos e impede a possibilidade de uma vivência plena de sentido, genuína e verdadeiramente livre, que não seja imposta nem pelas necessidades do mercado, nem pela violência institucionalizada contra aqueles que ousam agir, viver ou simplesmente ser de forma diferente. Um exemplo claro é o extermínio da população negra nas periferias das nossas cidades ou os diversos casos de violência contra mulheres e homossexuais.

Acreditamos e lutamos por uma sociedade sem explorados e exploradores, sem oprimidos e opressores, onde a solidariedade, a liberdade e o amor sejam os princípios norteadores da organização coletiva de nossas vidas. Compreendemos que o racismo, o sexismo e a intolerância de todos os tipos não começaram no capitalismo, mas tampouco poderão acabar num sistema que se fundamenta sobre a naturalização da exploração do homem sobre o homem. No entanto, não devemos esperar o fim do capitalismo para combater essas práticas e construir novos valores e novas formas de relação humana. O combate tem que ser feito no dia-a-dia e de forma corajosa por todos e todas que defendem a liberdade do indivíduo e seu caráter transformador.

Por isso, declaramos o nosso mais veemente repúdio às atitudes lamentáveis de demonstração de racismo e intolerância ocorridas recentemente na UFS. Uma nova sociedade sem exploração só será construída se for de todas as cores, de todas as línguas, de todos os jeitos de amar, se nos der a possibilidade de sermos iguais na diversidade da humanidade, sem opressores e oprimidos.

São Cristóvão, junho de 2009
Universidade Federal de Sergipe


Assinam esta nota:
- Sonia Meire Santos Azevedo de Jesus - DED, Joana Carvalho - Enfermagem, Danilo Santana - História, Cleidson Carlos - História, Layane Santos - Geografia, Fernando Correia - Geografia, Alexis Magnum - Direito, Caio Cézar - Geografia, Pedro Alves - Comunicação, Vinícius Oliveira - Comunicação, Paulo Lopes - Comunicação, Ana Aquino - Direito, Mike Gabriel - Computação, Leandro Sacramento 'Pel' - Biologia, Mayra Alves - História, Thiago da Silva Santana - Direito, Carlos Marcelo Maciel Gomes - Geografia, Coletivo Barricadas

entre outras pessoas e coletivos que assinaram.

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danilo feop

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