terça-feira, 18 de agosto de 2009

Carta-aberta à nova superintendente do IPHAN

Texto: Francisco José Alves (Professor do Departamento de História/UFS. Coordenador dos “Defensores de Patrimônio Cultural Sergipano”, E-mail: Fjalves@infonet.com.br)

Senhora: Em primeiro lugar, parabenizo-a pela indicação ao cargo. V.S, de fato, faz jus a ele: foi durante longos anos professora de história, escreveu obras sobre o passado de Sergipe, tem experiência na gestão cultural, pois, no início da carreira, dirigiu órgão de política cultural e, até bem pouco tempo, chefiou o Museu do Homem Sergipano. Como se pode dizer, V.S é do ramo.
Por outro lado, como V.S. bem sabe, pesam sobre os vossos ombros muitas responsabilidades e desafios. O órgão possui parcos recursos e ainda um número diminuto de servidores. É com estas limitações que terá que cuidar do patrimônio cultural material e imaterial de Sergipe e Alagoas.

Não falarei do Estado vizinho, pois a sua realidade desconheço. Manifesto minhas expectativas quanto a Sergipe.

Uma primeira responsabilidade do órgão que V.S. dirige diz respeito aos bens sergipanos tombados pelo governo federal. Como sabe, alguns deles estão reclamando urgentes cuidados. Bem próximo de nós, em Itaporanga D’Ajuda, a igreja da fazenda Colégio encontra-se semi-abandonada com uma restauração que não foi finalizada. Os retábulos do templo jazem desconjuntados, aguardando há anos remontagem e restauros adequados. V.S. sabe da importância da Fazenda Colégio e, portanto, não vou chover no molhado...

Em pior situação encontra-se um outro bem sergipano também tombado Governo Federal. Falo da capela do engenho Poxim, no município de São Cristóvão. Bem pior ainda, encontra-se a capela do Engenho Jesus, Maria e José, nos domínios da usina Pinheiros, no município de Laranjeiras. É quase impossível chegar a ela, pois está cercada de mato. Ouvi dizer que serve de abrigo para gado.

Além dos cuidados com os bens tombados, outra atividade que se faz urgente é a divulgação, entre a população, sobretudo estudantil, do nosso conjunto patrimonial protegido pela Lei. A maioria dos nossos jovens desconhece o rol dos nossos bens tidos como de valor histórico.

Como valorizar e cuidar daquilo que se desconhece? Faz-se urgente uma grande campanha para que a população conheça seu patrimônio. A chamada educação patrimonial é uma necessidade.

Como educadora de ampla experiência, V.S. muito poderá fazer neste setor. Faz-se necessário que a 8ª SR IPHAN informe, amplamente, à população o que constitui o nosso patrimônio cultural.
Nesta tarefa é vital que a 8ª SR IPHAN se alie às escolas estabelecendo uma proveitosa parceria em prol da nossa cultura. Sem educação patrimonial o destino dos bens tombados é a destruição lenta ou veloz.

Outro aliado importante é a imprensa.

É necessário que a 8ª SR IPHAN conquiste os formadores de opinião, chamando-os para a causa patrimonial. Que o órgão não apareça na mídia somente quando descurou de um bem posto sob sua responsabilidade; que a Superintendência informe a imprensa o que faz ou o que pretende fazer. Por que não promover palestras para este segmento tão importante como difusor de idéias e formador de opinião? É fundamental que a 8ª SR IPHAN conquiste a imprensa para a causa do patrimônio. A cultura sergipana muito ganhará com esta aliada.

Por fim, julgo necessário que a 8ª SR IPHAN entre em contato com as universidades e faculdades aqui existentes. Que o órgão chame pra si historiadores, arquitetos, educadores, geógrafos, turismólogos, enfim todos que, em razão do ofício, cuidam de questões relativas ao patrimônio.

Estou falando de relações institucionais e não, como costuma ocorrer, meras parcerias com
indivíduos calcadas na amizade ou no parentesco.

Penso que V.S. tem uma oportunidade de ouro para muito fazer pela cultura sergipana. Para tal, além da comprovada competência técnica, necessitará de muita coragem e criatividade...

Desejo, sinceramente, que a passagem de V.S. pela 8ª SR IPHAN signifique uma auspiciosa época na política cultural de Sergipe.

Saudações republicanas.

11 de agosto de 2009

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danilo feop

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