Aprovada na quarta-feira passada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), a reformulação do currículo do ensino médio promete mudar a concepção de educação no País. A partir de 2010, o Ministério da Educação (MEC) financiará projetos de cem escolas públicas que privilegiem um currículo interdisciplinar e flexível – seguindo a tendência do novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) –, mas a ideia é que a proposta se universalize por toda a rede pública particular.
A adesão, que não será obrigatória, pelo menos a princípio, causou apreensão entre educadores baianos. Maior número de aulas e interdisciplinaridade no aprendizado, segundo alguns deles, demandam investimento que ainda não foi claramente apresentado pelo MEC. Além de carga horária aumentada – das atuais 800 horas anuais para mil –, o Ministério da Educação propõe a extinção de disciplinas tradicionais, como português, geografia e matemática.
No lugar delas, eixos interdisciplinares, denominados trabalho, ciência, tecnologia e cultura. Pelo novo modelo, que ainda não foi lançado oficialmente, os alunos poderão escolher 20% da grade curricular de acordo com seus interesses e aptidões, e a capacidade do aluno de ler e interpretar será avaliada em todas as áreas temáticas. Dentro de 40 dias, o Ministério da Educação deve divulgar, de acordo com sua assessoria de comunicação, o volume de recursos e mais detalhes da proposta.
Favorável – Diretora do Sindicato dos Professores da Rede Particular, Heloísa Monteiro é favorável à mudança curricular, porém faz ressalvas à forma como ela pode ser implementada. “Quem vai regulamentar e fiscalizar? Há documentos do MEC muito bons, mas quem é que vai às instituições para observar essa implementação?”, questiona a educadora, que também ensina na rede privada. “Está se discutindo a formação do professor? Ele está preparado para essa reformulação?”, indaga.
Para a educadora, a mudança pode trazer impacto tanto na mensalidade como no salário dos professores de uma forma geral. “A escola privada não tem plano de cargo e salários, há professores que trabalham às vezes em quatro unidades para formar um salário no final do mês. O empresariado baiano tem dificuldade de discutir qualidade versus lucros, eles investem em grandes prédios, fachadas, tecnologia, quando, na verdade, o investimento precisa ocorrer na formação humana”.
Presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB), Rui Oliveira destacou a importância de sanar o déficit de docentes antes de promover a reforma metodológica do ensino na Bahia. “Sexta-feira, divulgaremos um levantamento do déficit de professores, mas já sabemos que a tendência, numa proposta como esta, é aumentar em 15% o número destes profissionais. Nossa discussão é em cima disso”.
O MEC já informou que entre R$ 50 milhões e R$ 100 milhões serão direcionados às cem primeiras escolas, o que sugere teto médio de R$ 1 milhão por unidade de ensino. “Nós não temos data definida para adesão, mas vamos nos engajar nessa proposta porque entendemos que de fato o ensino médio precisa ser reformulado”, acredita o secretário estadual de Educação, Adeum Sauer, que demonstrou interesse, na Bahia, de criar modelo de ensino integral em toda a rede.
Também membro do CNE, Adeum Sauer explicou que a secretaria ainda avaliará quais escolas baianas poderiam integrar as cem beneficiadas em 2010. “Ainda não sabemos quais seriam as escolas. É um projeto experimental e voluntário inicialmente”, disse.
Sobre a necessidade de investimentos, o secretário esclareceu que “como o MEC estava aguardando a aprovação, certamente agora irá discutir como ajudar a financiar estas propostas”.
danilo feop
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