sábado, 30 de outubro de 2010

Análise sobre o ultimo Conselho de Entidades de Base da UFS

Por Jean Prestes estudante de Medicina da UFS

Confusão, gritaria, agressões que quase chegaram à dimensão física. O que deveria ser um espaço democrático onde os CAs e Das (centros e diretórios acadêmicos) da UFS têm a chance de se inserir nas decisões envolvendo a política estudantil tocada pelo nosso DCE (Diretório Central dos Estudantes) se transformou numa verdadeira arena de batalha. Estudantes contra estudantes. Insultos, xingamentos, e por pouco murros e pontapés. Mas por que se chegou a essa situação? Será que estudantes são baderneiros e impacientes por essência? Acho que não.


Antes de analisar o CEB – Conselho de Entidades de Base - eleitoral puxado pela gestão Integração do DCE no último dia 21, é preciso analisar a conjuntura que precede esse CEB. Inicialmente nos deparamos com a situação de que o último CEB puxado pela atual gestão do DCE foi justamente o último CEB eleitoral, nas eleições do ano passado. E daí? E daí que estatutariamente os CEBs devem ser puxados há cada dois meses. Nada mais óbvio, afinal, o que se espera da gestão de um DCE é que ela sempre abra espaços para participação dos diversos CAs e DAs da UFS. Mas não é isso o que acontece. E por quê? Preguiça dos membros da gestão? Ou seria um mecanismo de centralizar as decisões estudantis de toda uma universidade, de 20 mil estudantes, em um pequeno grupo que está a frente do DCE há três anos e em seus interesses pessoais?


Sobre essa centralização, ainda existe o fato lamentável de que justamente há 3 anos também não há uma assembléia puxada pelo DCE, evitando assim a participação não só dos CAs e DAs, mas dos estudantes da UFS em geral. A atual gestão do DCE é muito eficiente em construir grandes festas, colocar bilhar e fliperama na universidade e em distribuir jornaizinhos de alta qualidade pela UFS. Mas quando se trata de lutar pelos interesses estudantis, quando se trata de lutar por assistência estudantil, por um RESUN de qualidade e sem as filas quilométricas que já conhecemos, pela construção de restaurantes universitários também no HU e em outros campi, por uma expansão verdadeiramente de qualidade (e não essa expansão que a gente conhece, onde vagas são ampliadas, cursos são criados, mas a estrutura fica estacionada, fazendo com que, por exemplo, nós da medicina tenhamos que assistir as aulas de Bases da Técnica Cirúrgica sentados nas macas e sem espaço para projeção de slides, e com que vários outros cursos tenham problemas de falta de professores, salas etc), enfim, quando se trata de entrar num embate por melhorias de fato na UFS e pela defesa de uma educação pública e de qualidade para todos, o que vemos é um DCE omisso e que evita se indispor com a Reitoria.


Toda essa conjuntura já é o suficiente para que os ânimos dos estudantes que anseiam por democracia, que se organizam em seus CAs/DAs para lutar por melhorias na educação, já fiquem exaltados. Porém, a coisa ainda piora quando, no início do CEB, um estudante de Educação Física tenta propor um ponto de pauta para o CEB e tal proposta é simplesmente negada pela mesa (leia: pelo atual presidente do DCE) sem que a plenária (todos os estudantes que estavam participando do CEB) fosse consultada. Ou seja, em vez de a proposta de inclusão de mais um ponto de pauta ser votada democraticamente entre toda a plenária, o presidente do DCE, Antonino, se sentindo no direito de ser, sozinho, a voz de 20 mil estudantes, simplesmente decide ignorar a proposta e sequer coloca-la em votação. Como não se indignar? Como não gritar? Como sentar a bunda na cadeira e se manter passivo diante de uma situação de práticas anti-democráticas como essa?


Não bastasse isso, todas as votações foram realizadas sem que as atas de posse dos diversos CAs/DAs fossem conferidas. Nós, do CAMED, estávamos com a nossa lá. Aproximadamente outros 15 cursos também estavam. Mas e os outros quase 20 centros acadêmicos? Como controlar e ter certeza de que as pessoas que estavam lá eram de fato dos seus respectivos centros acadêmicos? A plenária clamou, os estudantes clamaram para que as atas de posse de todos os centros acadêmicos fossem conferidas antes das votações. Nada mais justo. Aliás, para Antonino e seus colegas da gestão do DCE o mais justo era, mais uma vez, ignorar os pedidos e prosseguir com as votações, mesmo correndo o risco de existirem centros acadêmicos fantasmas. Práticas irresponsáveis que são inaceitáveis de se partirem de um grupo que representa todos os estudantes da nossa universidade. Os ânimos se exaltavam cada vez mais, e cada vez mais a plenária ia perdendo a paciência com o abuso de poder por parte da gestão Integração do DCE.


Para completar, a proposta de calendário eleitoral por parte da gestão do DCE foi extremamente absurda. O que se espera de um CEB eleitoral é que, após o seu término, exista um calendário eleitoral flexível onde haja tempo suficiente para as chapas se organizarem para fazer a inscrição e também um tempo largo de campanha, afinal, estamos falando de vários campi, de 20 mil estudantes. No entanto, a proposta do DCE foi de as inscrições de chapa já se iniciarem na segunda (apenas QUATRO dias após o CEB) e todo o processo eleitoral - inscrições, campanha e eleições – durar apenas QUATORZE DIAS. Algo, a meu ver, totalmente INVIÁVEL. Embora tenha surgido uma outra proposta de calendário por parte de estudantes da plenária, uma proposta mais flexível e com mais tempo para a organização da chapas, mais tempo de campanha etc, foi aprovada a proposta absurda da atual gestão do DCE, que estava com a maioria dos CAs/DAs (sim, aqueles sem a ata de posse).


Meu amigo, eu já havia acompanhado algumas atitudes desse grupo que está a frente do DCE há três anos e nunca gostei do que acompanhei. Mas eu nunca tinha comparecido a um CEB e voltei indignado com a falta de democracia e total centralização de poder por parte desse grupo. Chega a ser nojento e repugnante. Recusar proposta de pauta de estudante, não conferir a legitimidade dos CAs/DAs antes das votações, querer se reeleger a qualquer custo propondo um calendário extremamente curto e que não garante a participação dos estudantes, sem falar no fato de que termina a gestão e mais uma vez o grupo da Integração não faz prestação de contas (de onde vem o dinheiro pros jornaizinhos de alta qualidade? De onde vem o dinheiro para se contratar Dado Vila-lobos?). Por isso as brigas, por isso a exaltação por parte dos estudantes da plenária. A gritaria, a bagunça, o barulho não são a toa. É um grande grito que clama por democracia, que clama por um DCE democrático e que garanta a participação dos estudantes. É o barulho de estudantes indignados com essas práticas repugnantes e que desejam um novo DCE, uma nova perspectiva para a entidade que nos representa, que representa todos os estudantes da UFS.


Eu, particularmente, e sendo bem sincero, não tinha interesse em compor chapa para disputa do DCE. Possuo várias demandas, não só dentro do CAMED mas no curso em geral, que todos nós sabemos que é bem puxado, além das demandas pessoais etc. Mas estou indignado e disposto sim a doar uma parte do meu sangue para que essa situação que está colocada mude. Para que esse tipo de injustiça acabe dentro da nossa universidade. Eu, enquanto estudante, não quero ser representado por um DCE que só pensa em se perpetuar no poder a qualquer custo. Por isso eu e outros camaradas (Giu e Alisson) que estão na gestão do Camed estamos nos colocando para compor a chapa que fará oposição ao grupo da Integração. Chapa composta por estudantes que se reúnem periodicamente no Fórum de Mobilização Estudantil - FME, um espaço verdadeiramente democrático, onde todos constroem coletivamente as decisões, sem restrição. Chapa composta por um grupo que acredita na democracia e se coloca na luta não PELOS estudantes, mas JUNTO COM os estudantes. Chapa que não está disposta a ser marionete da reitoria e que com certeza terá por princípio as tentativas de diálogo com o reitor (como foi no caso da marcação da audiência pública que aconteceu esse ano), mas que, se preciso, não terá medo de se indispor e de lutar com todo o sangue por melhorias para os estudantes (como foi no caso da ocupação vitoriosa da reitoria em 2008, que conseguiu várias conquistas para os estudantes, principalmente os de Laranjeiras). Chapa que da luta nunca se retira.


Por fim, não quero que esse texto seja interpretado como campanha política, propaganda pra chapa X ou Y ou algo do tipo. É apenas uma análise do que DE FATO aconteceu. Dou minha cara a tapas sobre a veracidade de tudo o que eu disse aqui. Acho que todos os membros da gestão do Camed têm que estar por dentro do que acontece no Movimento Estudantil da UFS, por isso dediquei uma parte do meu domingo para elabora-lo. O posicionamento de cada membro, de cada estudante, depende do que cada um interpretará como sendo justo, sensato e bom para o conjunto dos estudantes da UFS. Eu sei que como está não pode continuar.


Abraços, e continuamos nos vendo nos corredores da UFS ;)

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