Moção de Repúdio ao CAHIS da UERJ pela nota ENEH 2010 - Sem limites

MOÇÃO DE REPÚDIO

Em decorrência da publicação da matéria “ENEH 2010 - SEM LIMITES” no Jornal do CAHIS - Filhos da Pública IV, nós abaixo-assinados viemos declarar nossa posição contrária a caricaturização, presente no texto, dos nordestinos, dos homossexuais, das mulheres, do Movimento Estudantil que milita no movimento de área e de todos estudantes e trabalhadores que se sentiram ofendidos com tal publicação independente da presença no XXX Encontro Nacional dos Estudantes de História.

A dita matéria refere-se a Fortaleza como “uma feira de São Cristóvão com quase duas milhões de pessoas”, “um caminhão carregado de Ypióca”, um “lugar pra carioca fazer a festa”, caracterizando a cidade como um espaço meramente turístico com produtos vendidos a baixos preços e uma população disponível a nos servir. Esta sátira não leva em conta os baixíssimos salários nordestinos, a exploração do trabalhador cearense, a imigração de nordestinos para o sudeste devido aos problemas sociais do Estado do Ceará e de sua capital.

Aos alunos de História foram atribuídos adjetivos como “bandido” e “viciado”, ridicularizando os encontristas com uma postura conservadora e reacionária. E diz que além dos ditos “homem travestido de homem” e “cantoras de MPB”, também “teve até gente normal no ENEH”, caracterizando a homossexualidade como anormal.

A proposta votada na Plenária Final para compor o estatuto da Federação do Movimento Estudantil de História sobre inclusão da história da mulher nas disciplinas que cursamos, que foi aceita por maioria do plenário, foi tratada como caso de piada. A justificativa dos contrários era que a proposta fragmentaria o estudo de História, que “rasgaria o marxismo”, como foi dito durante o encontro, apesar das mulheres serem um dos setores mais explorados da classe trabalhadora. Mesmo esta temática tendo sido pesquisada, por exemplo, por Eric Hobsbawm, um dos maiores historiadores marxistas, que afirma em seu livro A Era dos Impérios (1875-1914): “[o estudo sobre a história da mulher] é legítimo, na medida em que os historiadores concentram sua atenção nas mudanças e transformações da condição feminina; a mais impressionante destas, a “emancipação feminina”(...)” (p.302). E mesmo que este assunto fosse pioneiro, não haveria justificativa para ridicularizá-lo.

O humor e a irônia são armas muito úteis contra o capitalismo, mas não devem ser utilizadas para reproduzir a mesma opressão a qual o sistema nos submete, que são as opressões do gênero dominante, da raça composta pela maioria da burguesia, da imposição da heterossexualidade, dos etnocêntrismos, dentre outras, que não nos permitem sermos livres para escolhermos nossos caminhos.

Ao interrogar a alguns membros do CAHIS, ouvimos as seguintes afirmações: que este texto era a posição da gestão (o que obviamente é pressuposto por estar postado no jornal) e que este texto foi revisado duas vezes (o que caracteriza que a sua publicação não foi mero "ato falho"). Ao questionarmos se haveria retratação pública, a resposta foi negativa, portanto, a única alternativa encontrada pelos abaixo-assinados, nos sentindo agredidos e sem mais alternativas senão lançar esta moção de repúdio pública como resposta as opressões contidas na matéria "ENEH-Sem Limites".

Assinam essa carta: Coletivo Nacional de Estudantes Construção, Movimento Hora de Lutar, DALH - UFS, CAHIS - UPE-Carrancas , CAHIS - UFAL, CAHIS - UFPI, CAHIS - UPE - FFPNM, CAHIS - Unifesp, CAHIS - UECE, CAHCAM - UCSAL